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Escola de Artes Visuais do Parque Lage

Restauração + Adequação

Um espaço a ser apropriado

Nossa proposta para as edificações do Palacete e Cavalariça do Parque Lage pretende ser, ao implementado, um suporte ativo de apropriação destes espaços pela Escola de Artes Visuais (EAV). Garantiremos plena acessibilidade e mobilidade (física e digital) para que os alunos e visitantes da Escola possam desfrutar, se apropriar dos espaços das edificações, realizando toda a sorte de atividades culturais. Assim, uma maior gama de alunos e visitantes, nacionais e internacionais, serão atraidos ao espaço, seja por seu diverso programa de usos e nova infra-estrutura, seja por sua reconfiguração espacial.

 

São cerca de 40 anos de ocupação das edificações do parque pela EAV (desde 1966, como IBA), mais tempo do que a própria permanência do casal Lage (Henrique e Gabriela), que la viveu por apenas10 anos (1931 a 1941). O novo convênio a ser assinado, que prorroga por mais 30 anos a permanência da EAV no Parque Lage, consolida uma ocupação total de mais 60 anos. Isto posto, significa dizer que urge, mais do que nunca, a adequação da Escola e seus usos às edificações do Parque Lage, estabelecendo um diálogo harmônico entre os tempos presentes: a escola e sua demanda por espaços versáteis e o palacete e sua história impregnada nos seus elementos internos e externos. Este diálogo, para nós, reside na possibilidade de se contar a história da edificação a partir de seus espaços e elementos constituintes, sem painéis ilustrativos, animaçoes digitais ou textos. E, ao mesmo tempo, ter o perfeito entendimento do funcionamento e da utilização do espaço pela EAV. O que vemos hoje não é isso. Existe um monólogo, quiçá um embate entre a Escola e a arquitetura do Palacete. Podemos contar a história do prédio mas não podemos compreender como a Escola desenvolve suas atividades, plenamente, nestes espaços.

 

Durante a decada de 70 e 80, a apropriação dos espaços do Palacete pela Escola se caracterizou por uma falta de pudor com a condição patrimonial das edificações. Tratava-se de ocupar os espaços, preencher um vazio de possibilidades culturais, as vezes respeitando, as vezes subvertendo. Deste período, a contribuição da EAV para cultura carioca (e brasileira) é inquestionável. Após esta fase, o entendimento da importância da preservação do bem tombado pela Escola passa ser fator predominante na sua utilização do predio (palestras, cursos, aulas, etc), se adequando, na medida do possível, a um espaço desenhado para funcionar como residência.

 

O projeto

Palacete

Acessibilidade

Atualmente os três pavimentos do palacete se comunicam de forma precária. O acesso à cobertura está proibido e a conexão com o subsolo se dá através de uma única escada (a mesma que conecta o terraço), apesar da existência de outra, escondida, junto à cantina. Hoje, portadores de necessidades especiais não conseguem entrar no Palacete. Nossa proposta propõe um elevador interligando o subslo ao terraço e o prolongamento da escada da cantina até o terraço, através de outra em estrutura metálica. O acesso pelo subsolo (sob a varanda lateral), que hoje está fechado com treliças de madeira e utilizado como depósito, será aberto e adaptado para cadeirantes.


Os usos e a dinâmica da edificaçao

As aulas da Escola acontecem em espaços que não foram desenhados para esta finalidade. A mobilidade interna problemática faz com que as atividades, na sua maioria, se concentrem no pavimento térreo. Os outros andares ou estão sem uso (terraço) ou com aparência de abandonados (subsolo). Reorganizamos os espaços e usos de acordo com o horário de maior demanda por salas da Escola: fim do dia e início da noite necessitando de quatro salas para teoria e duas para pintura. Nossa preocupação foi manter e irradiar a atual dinâmica da área da piscina para os outros andares também. Para isso, a intervenção acontece da seguinte forma:

 

Subsolo

- Gravura: demolição das paredes que separam a lito, xilo e serigrafia e criação de um espaço único, com uma ilha de serviços no meio concentrando tanques, bancadas de apoio, câmara para manuseio de ácidos e câmara para o breu. As aulas serão ministradas ao redor, junto com os equipamentos. Será desenhado um grande armário no corredor defronte a sala de gravura para abrigar tintas, acidos, telas, secadores, mapotecas, papeis, etc. Um projeto de cálculo estrutural será desenvolvido para viabilizar a nova espacialidade.

 

Na sala em frente, onde atualmente é utilizado como depósito, será instalado, em salas separadas, a sala escura da gravura, o laboratório fotográfico (dois ampliadores) e a sala de bombas para piscina.

- Sala das crianças: será mantida no mesmo lugar, entretanto suas paredes serão demolidas, criando um espaço único, mais versátil e livre para as crianças.

- Banheiros: serão construídos novos banheiros, localizados junto à sala de gravura, defornte a sala das crianças. Banheiro feminino, masculino e para portadores de necessidades especiais. O atual banheiro, no subsolo, será demolido para dar espaço ao NAT (Núcleo de Arte e Tecnologia).

- NAT: ganhará uma sala de 60m2 com infra-estrutura necessária.

- Salas de teoria: serão duas salas de teoria junto ao NAT com toda infra-estrutura necessária (iluminação, tela de projeção, pontos de lógica e telefonia, etc).

- Ateliê 3D: espaço de 42m2 com infra-estrutura necessária para o desenvolvimento de protótipos.

- Desenho: será mantido no mesmo espaço. Suas paredes, esquadrias e forros serão restaurados e será dotado de infra-estrutura necessária para a atividade.

- Loja de desenho (espaço comercial): ficará onde hoje está o IBAMA. A divisão com a sala de Desenho será subsituida por uma esquadria em vidro e não terá nenhuma comunicação com o interior do prédio.

- IBAMA: será onde hoje se localiza a manutenção, na sala junto ao acesso ao Palacete,

- Depóstito: será onde hoje se localiza o cofre. Para guarda de materiais diversos da Escola.

 

Térreo

- Salão Nobre: será utilizado como auditório e também aulas de teoria para um grande número de pessoas. Receberá projeto específico de multimídia para dotá-lo de infra-estrutura necessária (tela de projeção retrátil, som, iluminação, projetor, etc).

- Biblioteca: será montada onde originalmente onde era o salão de jantar dos Lage. Será executado um mezanino metálico para guarda dos livros, que não terá acesso ao público, somente funcionários. A parte de leitura e computadores será ao rés do chão, incluso atendimento.

- Ateliers de Pintura: serão mantidos no térreo, ocupando duas salas, uma em cada lateral do Palacete, e com dimensões apropriadas. Nestes ambientes, as paredes internas serão demolidas até a altura da verga das portas, mantendo a leitura da divisão do espaço.

- Banheiros: serão recuperados os espaços originais que eram utilizados como banheiros, adequando-os para utilização pública (feminino, masculino, portadores de necessidades especiais e funcionários). O banheiro que pertencia a Gabriela Besanzoni será adaptado para portadores de necessidades especiais e a banheira, restaurada, ficará aberta ao público.

- Cantina: será mantida no mesmo local. Entretanto, seu espaço de preparo será reduzido. Não terá fogão a gás, tampouco coifa.

- Administração e AMEAV: serão mantidas no mesmo local. Entretanto, com uma nova organização interna, de acordo como a nova estruturação administrativa. O espaço, que era o quarto de Gabriela Besanzoni, será inteiramente restaurado conforme desenho original.

- Área de exposição alunos EAV: será mantida no mesmo local (hall de entrada), porém, dotada de infra-estrutura necessária. É importante frisar que nosso projeto dotará todo o Palacete de infra-estrutura para que se possam realizar exposições por todo o prédio.

 

Cobertura

A cobertura do Palacete será redesenhada de forma a garantir uma plena apropriação pelos alunos e visitantes. Criaremos uma praça suspensa, com diversas qualidades de espaços:

- Living-mirante: são os espaços mais elevados da cobertura. Serão instalados mobiliário de concreto (bancos e mesas) voltados para as melhores vistas. O piso destes espaços será de ladrilho hidráulico.

- Cobertura em lona tensionada: espaço de 150m2 protegido do sol e da chuva, podendo ser utilizado para aulas, palestras, pintura, etc. se localiza sobre um dos ateliêrs de pintura, proporcionando, neste espaço, uma temperatura mais amena em dias de intenso calor

- Jardim: junto a escada que dá acesso à cantina e sobre um dos ateliers de pintura, esta superfície de 160m2 gramada proporcionará uma temperatura mais amena no ateliê em dias de intenso calor e será utilizada para o lazer e deleite para os olhos.

 

Cavalariças

Salão de exposiçao: EAV+IBAMA

As Cavalariças será utilizada como o principal espaço de exposição da EAV. E será provida de infra-estrutura para tal. O corpo lateral (IBAMA) abrigará exposições temporárias ligadas a temática do meio-ambiente, podendo ou não interagir com o corpo central (EAV). Uma porta metálica de correr separa os dois ambientes.

 

Bistrô

Será instalado um pequeno bistrô no ala esquerda das Cavalariças. A parte de serviço será composta de uma parte fechada com ripados de madeira, onde terá fogão elétrico, ponto d’água e esgoto e demais equipamentos para preparo de pequenos pratos. E outra aberta, com balcão de atendimento. Mesas e cadeiras estarão distribuidas neste espaço, podendo ser colocadas na parte externa (posterior à edificação). Uma porta de correr metálica fará a divisão entre o bistrô e o espaço de exposição.

 

Teto verde

A cobertura do Palacete será redesenhada, conforme já explicitado anteiormente. Colocaremos uma superfície gramada (160m2) exatamente sobre o ateliê de pintura. A grama é utilizada neste trecho para proporcionar um resfriamento do ateliê em dias de intenso calor (economia de energia) e para o lazer (e deleite visual) dos que sobem na cobertura. Os telhados verdes existem há milhares de anos. Povos da América Central já utilizavam a técnica para criar isolamento térmico em suas casas. Na Europa, a tradição também vem do século XIX. Nos países nórdicos, colocar plantas sobre o teto era a forma de garantir o calor da casa antes da invenção dos aquecedores.



Cliente: Secretaria de Estado de Cultura do Governo do Estado do Rio de Janeiro

Local: Parque Lage, bairro Jardim Botânico, Rio de Janeiro

Área: 2.800m2

Data: 2008

Equipe: Paulo Vidal (consultor restauro), Antonio Paiva (designer), Gonçalo Jorge e Gustavo Rosadas (assistentes arquitetura) e Felipe Astolfi (assistente designer)


Projeto aprovado no IPHAN e INEPAC



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